quarta-feira, 18 de abril de 2007

Eike na energia e mineração

Revista Istoé Dinheiro23/06/2004

Ele gosta de correr grandes riscos. Agora, está investindo US$ 2 bilhões em termelétricas e em uma mina de níquel no Pará. Vai dar certo?

Por Darcio Oliveira, do Rio de Janeiro

O primeiro parceiro comercial do empresário Eike Batista era um sujeito chamado Ditão, que controlava o garimpo, a pista de pouso e tudo o mais em Alta Floresta (MT). Foi lá, aos 24 anos, que Eike, recém-chegado da Alemanha, vislumbrou uma grande oportunidade de enriquecer negociando ouro. Era uma “sociedade” informal. Ditão o deixava trabalhar tranqüilamente e, em troca, o “forasteiro” trazia grandes compradores de ouro para a região. “Um ano depois, comprei uma mina do Ditão e ergui um patrimônio de US$ 6 milhões”, conta Eike. Hoje, aos 46 anos, Eike Batista é um empresário que só fala em bilhões. Suas parcerias atuais – com todo respeito ao Ditão – também são bem maiores. Com a canadense Canico ele está investindo US$ 1 bilhão numa mineradora de níquel no Pará. Com os americanos da Montana Dakota Utilities, outro US$ 1 bilhão será aplicado no setor de energia. Há ainda acordo com os bolivianos para abastecer uma termelétrica no Pantanal e israelenses querendo parceria numa mina de diamantes, sem contar os investimentos de US$ 100 milhões numa mina de ouro no oeste do Amapá. “Tenho bons contatos e faço bons negócios. É só isso”, diz Eike.

A sócia MDU: US$ 500 milhões em energia no Brasil É isso e mais uma incorrigível queda pelo risco. “Ele já entrou em vários negócios por pura intuição. Ganhou dinheiro na maioria, mas também já quebrou a cara”, conta um executivo que acompanha há tempos a trajetória da EBX, a holding de Eike Batista. O empresário não se deu bem, por exemplo, com a JPX, que produzia jipes. Também perdeu dinheiro com mineradoras no exterior, com empresas de cosméticos e com uma firma de courier, a EBX Express. “Por isso mesmo, a recente contratação de José Luiz Alquéres para o grupo fará um grande bem. Trata-se de um típico conselheiro que pode dar o equilíbrio ideal na empresa”, diz o mesmo executivo. Ex-presidente da Eletrobrás, da Cerj, da Light e ex-secretário Nacional de Energia, Alquéres desembarca na EBX como vice-presidente do conselho. Também passa a ser o presidente da filial brasileira da Montana Dakota Utilities, sócia de Eike e dona de um faturamento mundial de US$ 3 bilhões. O forte da MDU são os setores de construção civil, petróleo e gás e energia. É justamente este último segmento que vem concentrando todas as apostas de Eike.

Aliança estratégica Eike terá o reforço de José Luiz Alquéres, ex-Eletrobrás (em pé), em sua cruzada pelo setor de energia Alquéres trouxe na bagagem US$ 500 milhões da MDU para investir em energia. Parte desse dinheiro já foi usada na TermoPantanal, usina de US$ 130 milhões e 160 megawatts instalada em Corumbá (MS). Entra em funcionamento em junho de 2005. MDU e Eike estão colocando US$ 100 milhões no empreendimento. O restante vem do sócio boliviano, a cooperativa CRE, que entrou na jogada com uma função estratégica: viabilizar o abastecimento de gás através de um ramal “particular” do gasoduto Bolívia-Brasil. Com uma empresa boliviana na sociedade, levando metade da energia (80mW) para seu país, ficaria mais fácil abri caminho para a construção do duto alternativo. Na mosca. O ramal custou US$ 13 milhões e tem capacidade de transportar um milhão de metros cúbicos de gás por dia. Além disso, Eike conseguiu tarifas mais baixas. Além da CRE, entram na parceria a Petrobras da Bolívia (que fornece o gás) e a MSGás, que o distribui já no Mato Grosso do Sul. “É uma usina binacional. Duas turbinas de um lado, duas de outro. São 80 mW para lá e outros 80 para cá”, explica Eike.

Cerca de 1,1 bilhão serão aplicados em parceria com a canadense Canico. Mas o grande salto da dupla EBX/MDU ainda está por vir. É o projeto mil megawatts, orçado em US$ 1 bilhão. “Estamos prontos para oferecer esse volume de energia firme no Brasil. É o suficiente para iluminar todo o Ceará”, festeja Eike. O empresário guarda segredo sobre a quantidade de usinas que pretende instalar para gerar os tais mil mW. “Pode ser uma, duas, três ou até mesmo aquisições de térmicas...não sei. O que sei é que vamos levar a melhor nos leilões.” Ele se refere aos leilões do novo modelo energético, criado pela ministra Dilma Roussef. Ganha o direito a operar quem oferecer a tarifa mais baixa. “O novo modelo premia a eficiência e isso é bom. Nós somos campeões em custo e sabemos como fazer, por isso a minha confiança”, diz Eike. No projeto 1.000 MW a MDU entra com US$ 300 milhões e Eike se encarrega do resto, puxando para seu lado bancos de fomento e parceiros privados. Alquéres diz ainda que a MDU está bem interessada no Programa de Incentivo a Fontes Alternativas (Proinfa), que incentiva a instalação de pequenas centrais hidrelétricas, geração eólica e biomassa. Outro flanco é o setor de petróleo e gás. Também em sociedade com Eike? “A prioridade da parceria é sempre com a EBX”, afirma Alquéres.

Da energia, Eike salta para a mineração. Recentemente, fez uma associação com a Canico para construir a mina de níquel Onça Puma. “Levando-se em conta o atual preço do níquel no mercado, essa mina vai gerar para o Brasil US$ 600 milhões em exportações anuais”, garante o empresário. “O níquel é um dos insumos do aço inoxidável e há um mercado imenso lá fora para esse tipo de produto, principalmente na construção civil e na siderurgia.” A Onça Puma tem reservas para mais de 40 anos e deve entrar em operação em 2007. Outro projeto de peso nessa área é a Pedra Branca de Amapari, mina que está sendo construída a 300 quilômetros de Macapá (AP). Vai produzir 6 toneladas por ano a partir de setembro do ano que vem. “Ali tem ouro para 12 anos. Com ela, teremos um faturamento de US$ 80 milhões.” Eike na verdade está voltando à mineração.

Durante anos, manteve a TVX, braço do grupo responsável por todos os negócios nessa área. A TVX assinou o projeto de sete minas de ouro, sendo quatro no Brasil, uma no Chile e duas no Canadá. Em todos esses empreendimentos, tinha como sócios empresas do porte da Rio Tinto, Anglo American, Placer Dome e Inco. “Acabei vendendo para a Kinross Gold. Hoje, a EBX tem participação de 2% na Kinross”, diz Eike. “Troquei a maior fatia do bolo num negócio pequeno, por uma pequena participação no bolo maior. Foi um bom negócio.”

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